" Certo jovem chinês, desejoso de aprender as técnicas do Kung Fu Shaolin, submeteu-se aos testes de admissão do templo e em seguida foi encaminhado à presença do mestre. Diante do mestre pôs-se a descrever sua ansiedade em tomar-se um lutador poderoso, seus desejos com relação à Arte Marcial, sua admiração pela arte de chutar, socar, saltar, lutar, etc.
Quando terminou de falar o mestre permaneceu algum tempo em silêncio e depois lhe explicou que o valor no Kung Fu não está na força e no poder e sim no conhecimento. O garoto continuou a insistir em sua admiração pelas técnicas de luta. O mestre lhe contou a respeito de um touro que entrou em uma loja de louça e pisoteou os vasos e as cerâmicas finas, reduzindo tudo a cacos.
O menino continuou a elogiar as técnicas que havia presenciado e os lutadores que havia conhecido. O mestre insistiu que as ambições dele eram demasiadas e que se quisessem aprender tudo aquilo, uma vida só não bastaria. Ele respondeu que não tinha muito tempo, que tinha pressa e que queria aprender mesmo que fosse umas poucas técnicas. Mais uma vez o mestre o aconselhou a meditar no touro da loja de louça fazendo-o ver que podia se transformar nesse touro, e que acabaria por destruir ao mundo a seu redor como o touro destruiu a loja.
Mais o jovem continuou a insistir mais e mais em aprender as técnicas que desejava. O mestre então lhe propôs uma última prova antes de ser admitido aos ensinamentos marciais do templo. A prova consistia em amassar uma folha de papel transformando-a em uma bola e depois alisá-la novamente e recomeçar outra vez,transformando-a novamente em bola e alisando e prosseguindo assim até que o papel se reduzisse a tiras; deveria então pegar outra folha e recomeçar.Esse exercício deveria ser feito diariamente por doze horas, durante três anos. Terminados os três anos o jovem retornou à presença do mestre e este indagou:
- Praticou continuamente durante doze horas diárias como lhe foi
recomendado?
- Sim; respondeu o jovem.
- Então pode ir embora - respondeu o mestre. - Seu aprendizado
terminou.
O jovem ficou muito aborrecido e decepcionado, pois tinha seguido à risca as instruções do mestre. À custa de muito sacrifício tinha praticado doze horas diárias e agora o mestre se recusava a lhe ensinar o que tanto queria. Sentiu-se enganado e culpou o mestre por ter lhe roubado três anos de sua vida.
Voltou para casa e assim que chegou, seu irmão que estava no banho pediu-lhe que lhe esfregasse as costas. Começou a esfregar as costas do irmão mas teve que parar, pois descobriu que por onde passava sua mão a carne se abria e jorrava sangue..."
Fonte: O "Espírito Marcial" - Marcos Natali (Editora Ediouro)
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